Dissera-me alguém
Que ruim seria morrer
Pobre a puerilidade contida nesse ser
Mal ele sabe a liberdade
Que trazem os helmintos na terra nua
Dor é o que sentimos nesta carne
Frágil e malcheiroso como o ato que a gerou
Erguem-se no trono trevosamente iluminado
O haltere e o manequim
Aquele, com bordoada e estrondosa vestimenta
Carniça duramente lesionada pelos pesos da sociedade sarada
Infla tanto, para tentar esconder o vazio que lhe dói
Este, coberto com os estigmas de Afrodite
A dor dos ossos salientes e das anfetaminas desidratantes
É mascarada no seu ar blasé e nos holofotes de seu escravizador
Pior ainda é o prazer doloroso
Essa lasciva doença pela qual muitos procuram
Ânsia de possuir alguém nos braços ou nas costas
Amor, pérola da lama e da sombra
Em que todos se chafurdam para obter essa rara jóia
Sangrenta e sanguinária e esporrada e futricada
Tão mal quanto é a beleza
Tanto ódio, tanta dor nos olhos alheios
Quanta fraqueza tem a alma dum belo corpo
Dor tamanha a que sinto
Em vê-la todos os dias
A personificação do ardor do Amor e da Beleza
Logo a mim, a que nunca foi-me permitido chegar próximo
À flor desse lamaçal umbrálico
Doem meus olhos, minha cabeça, meu corpo
Por não mais poder tocá-la
E vê-la sofrer em silêncio
Pelo moleque que a largara pelo colo daquela mulherzinha
Deus, permita-me não mais sofrer dessa insuportável dor
Não me deixe sentir esse deleite
Pelos róseos hematomas
Imolam a minha consciência
Pela dor de ver tempo sendo perdido