Cheios dessa vida de ócio
Desses hipócritas que nos enchem a cabeça
Dessa sociedade que não sabe viver
Caminhando, rumando, ruminando
Ao encontro do nada
Essa gente que ama, odiando
Que apóia, derrubando
Que ri, chorando
Vamos seguir a tendência
Vamos seguir a moda
Vamos esquecer aquela vozinha
Que nos chama à estreita porta
À plenificação humilde
Ao sofrimento edificante
Vamos brincar de escola
Esquecer-nos da vida
Abraçar e enforcar o saber
Ser cientificistas, ser ortodoxos
Seguidores desse bicho chamado Ciência
Vamos brincar de trabalhar
Empertigados naquela roupa apertada
Estressar-nos com o chefe
Puxar tapetes até que puxem o nosso
Engolir, todo final do mês, as migalhas
Que aquele gordo, que se acha feliz
Atira-nos, como esmola
Vamos brincar de casar
Eu, com aquele smoking
E você, com aquele véu branco
Na frente de inexistente divindade
Um amor inexistente
Pôr as algemas invisíveis,
Das quais só se vêem
As douradas presilhas da dor
Na anelar falange
Vamos brincar de casinha
Um apartamento tão falsamente luxuoso comprar
Pagá-lo em mais da metade dos que nos sobra da vida
Arrumá-lo com aqueles inúteis enfeites
Tirar doentemente o pó da habitação
Lutar contra a externa sujeira
Só pra ninguém perceber a nossa
Vamos brincar de nos futricar
Nos estimularmos com o prazer ínfimo
O falo em você enfiar
E você de prazerosa dor urrar e rir
Como a uma louca
Vamos brincar de papai e mamãe
Fazer e parir filhos
Lançá-los ao mundo sem o mínimo de preparo
Abandoná-los na mesma escola que nos educou
Análise fazer por causa deles
E pagar rios de dinheiro
Pra longe vê-los de nós
Só não vamos brincar, freuerlein
De morrer
Porque papai não deixa
Porque é "tamanha" a vida
Pra tão fácil desistir
Relicário
Vejam essa estrutura
Madeira sólida e bem polida
Num canto qualquer da nobre habitação
Local de reza
De palavras repetidas ao acaso
Jogadas ao vento como a poeira da casa
Quem as receberá?
Essa imagem
Da mais bela cerâmica
Advinda do mais remoto local
Donde emergiu da negra superfície
A mulher, a deusa, que fora subjugada
Pela sua própria metade
É o cármico destino da Eva
A mais criativa das mulheres
Aquela que queria saber mais
Mas que enganada fora
Pela fálica serpente
Formas, objetos, templos da arte
Objeção cega feita pelos fanáticos pela forma do coração
Mas de que importa isso possuir um formato
Se não pulsa, nem vida carrega na sua batida frenética
De que adianta a balada melodiosa
Se ela não transmite qualquer tipo de conteúdo
De que adianta as rimas impossíveis,
Se desconexas ficam as palavras
De que adianta as curvas e floreios harmônicos,
Se nada possuem a não ser a perfeição cartesiana
De que adiantará a arte pela arte,
Se a arte péla a vida?
Madeira sólida e bem polida
Num canto qualquer da nobre habitação
Local de reza
De palavras repetidas ao acaso
Jogadas ao vento como a poeira da casa
Quem as receberá?
Essa imagem
Da mais bela cerâmica
Advinda do mais remoto local
Donde emergiu da negra superfície
A mulher, a deusa, que fora subjugada
Pela sua própria metade
É o cármico destino da Eva
A mais criativa das mulheres
Aquela que queria saber mais
Mas que enganada fora
Pela fálica serpente
Formas, objetos, templos da arte
Objeção cega feita pelos fanáticos pela forma do coração
Mas de que importa isso possuir um formato
Se não pulsa, nem vida carrega na sua batida frenética
De que adianta a balada melodiosa
Se ela não transmite qualquer tipo de conteúdo
De que adianta as rimas impossíveis,
Se desconexas ficam as palavras
De que adianta as curvas e floreios harmônicos,
Se nada possuem a não ser a perfeição cartesiana
De que adiantará a arte pela arte,
Se a arte péla a vida?