Muitos dizem que o homem é o que tem. Outros tantos afirmam que o mesmo se define a partir do que é. Nesse teatro, do que importam as máscaras e os adereços? Na grande obra da vida, é o que se faz que forma o homem. Essa é uma verdade tão sutil, mas tão tangível, que talvez seja a menos percebida no cotidiano.
Valorizam-se muito os empreendedores. E, pelo menos aqui, não se pode criticá-los. Eles foram corajosos o suficiente para, de uma forma ou outra, por caminhos tortuosos que o tempo nos há imposto, escreverem o livro de suas vidas. E o preço, invariavelmente, é alto demais. Porque são culpados.
A humanidade criou um sistema tão fantástico, tão inteligente de vida em sociedade, que, hoje, quem faz, tem culpa. Os jornais nos transmitem isso toda hora, todo dia. Criam monstros que, num acesso infantil de loucura, tiraram a vida de outrem. Pior, podem destruir a vida de alguém que simplesmente errou.
Erros existem, e devem ser reparados. Alguns podem dizer que há alguns imperdoáveis. Mas os que o dizem não são capazes de se perdoarem. Procura-se a culpa de todos os males, de todas as mazelas, mas se esquecem de que apontar culpados não vai resolver o problema. Infelizmente, a arte do diálogo cada vez mais é suprimida, apagada a todo o custo. Vai sumindo a partir das famílias.
Sobram meios e interlocutores, mas falta, e muito, conteúdo. E sem isso, como será possível uma conversa produtiva? Não compartilhando os erros uns dos outros, eles se sucedem cada vez mais, numa escala crescente de gravidade. As pessoas querem se desvencilhar ou unir-se uma à carne da outra, numa costura macabra. Daí só restam feridas, e que doem e custam a sarar.
Falta compreensão, vive-se infelizmente numa cultura de culpados e neutros. E os neutros, esses sempre estão vencendo. E o limite de um ultrapassa o do outro, numa cadeia que só vai parar quando for quebrado o limite do primeiro. Um ciclo sem fim, de destruição e dor.
É, talvez seja o tempo de se calar, de se amordaçar, de se anular. Queimar a sua essência na Quarta-feira de Cinzas e comprar uma máscara. Até que elas estão ai aos montes, umas largadas ao chão. Porque dói ser culpado de uma coisa que se tentou evitar.