Vogelfrei

Volto a postar aqui no blog após quase duas semanas. Em primeiro, surpreendo-me com a rapidez imperceptível do tempo, tão valorizado hoje em dia. Também admito que esse foi um período em que, por diversas razões, não tive inspiração alguma pra escrever sequer uma linha. Mas, nesse dia, a maré mudou, devido a uma notícia que, ao mesmo tempo, é triste e revoltante.
Teve uma média repercussão nos noticiários dos grandes impérios televisivos, responsáveis por nos entorpecer, dia após dia, com notícias fúteis ou, quando não, por tragédias do pior estilo, uma manchete que poderia ter se tornado "comum" nesses programas, se fosse ambientado na maioria das escolas. Infelizmente, não se fez tal fato. Cito, para os que não sabem, o acontecimento ocorrido no Colégio Naval, em que um estudante, ao contrário do que disseram os algozes midiáticos, enlouqueceu devido à pressão exercida pelos estudantes e pelo próprio corpo de oficiais (ou feitores).
O Colégio naval, admito, nunca foi admiração ou sonho meu. Ao contrário, não concordo com o modelo educacional e filosófico da instituição. Jamais conseguiria permitir um tolhimento da minha liberdade individual pra simplesmente conseguir sucesso, como fazem todos aqueles, que se sacrificam por um, dois, até três anos pra entrar na "Balilla". Aproveitando essa alusão à instituição disciplinadora (ou torturadora) de jovens italianos, à época de Benito Mussolini, pensemos um pouco no papel da instituição militar. O que fizeram esse grupo, sustentado pelo governo federal, nos últimos anos? Pois lhes responderei.
Digo, categoricamente, que as forças militares desse país nada fizeram pelo povo brasileiro. Posso até me consertar, afirmando que eles trouxeram consigo a truculência de um sistema autoritário, cujas consequências perduram até os dias atuais de nossa existência como país livre. Espoliaram o povo, obrigando os jovens a cumprir um alistamento desnecessário para si mesmos, pois somente lhes dá como dever limpar os quintais dos coronéis e levar pra passear os cães do senhor major. Isso lá é tarefa digna pra uma pessoa, que tanto luta pra conseguir um soldo que nem é proporcional ao seu esforço físico-mental? Afirmo também que os senhores oficiais, em sua maioria, nada fazem, a não ser mamar nas tetas das verbas da União, sustentada, quase inconscientemente, por nós, que somos iludidos por essa mesma classe pelo ideal de manter em nossos corações o instinto nacionalista e de manutenção à democracia, coisa tão piegas e antiga quanto a própria instituição.
A filosofia do atual militarismo brasileiro ainda tá ligada a frágil estrutura positivista. Tal modo de ver a sociedade assemelha-se a uma comunidade de formigas. Pois lhes pergunto: somos formigas, seres frágeis e irracionais, sem força suficiente pra nos revoltarmos contra nossas estruturas sociais putrefatas de tão antigas? Não, somos seres livres e temos direito a pensarmos e agirmos como bem queremos. Não devemos permanecer confinados num campo (de concentração) apenas em busca do sucesso.
Desde a época da proclamação da república foi assim. As forças armadas sempre procurando meios de convencer o povo de que estão fazendo o bem. Seja por parnasos, tremendos homossexuais encolhidos que criaram essa palhaçada de serviço militar obrigatório, seja por militares inspirados no nacional-socialismo, pregando que uma mentira, quando repetida mil vezes, torna-se verdade. Pra eles, a disciplina, o peito estufado, a falsa objetividade são a glória pra quem quer que seja. Estão enganados, principalmente nos dias de hoje.
Termino esse post afirmando que a maioria das ações das forças militares estão identificadas com atos totalitários, e portanto, devem ser execradas em meio público. A própria existência do militarismo é uma quimera. Cito palavras do ex-deputado Márcio Moreira Alves, que em 12 de Dezembro de 1968, fez um dos discursos mais desafiadores ao militarismo brasileiro:
"A impessoalidade das conquistas do Direito é uma das mais belas realidades da luta dos povos pela liberdade. O nome dos barões que, nas pradarias de Windsor, fizeram o Rei João Sem Terra assinar a Magna Carta, perdeu-se nas brumas do tempo. Mas o julgamento por jurados, o direito dos cidadãos de um país livremente atravessaram as suas fronteiras, a necessidade de lei penal anterior e de testemunhas idôneas para determinar uma prisão, continuam a ser um imorredouro monumento àqueles homens e a todos os homens. Esqueceram as gerações modernas as violências de Henrique VII da Inglaterra, porém todas as nações do Ocidente incorporaram às suas tradições jurídicas a medida legal que durante seu reinado e contra ele firmou-se – o hábeas corpus. [...] Não se julga aqui um deputado; julga-se uma prerrogativa essencial ao Poder Legislativo. Livre como o ar, livre como o pensamento a que dá guarida deve ser a tribuna da Casa do Povo. A Constituição proíbe que se tente abolir a Federação e a República. No entanto, os parlamentares podem defender da tribuna a monarquia e o estado unitário. A liberdade de expressão no Congresso terá de ser total para que o Congresso sobreviva. Muitas vezes, em períodos conturbados de nossa História, e ainda recentemente, deputados discursaram em defesa de um regime de exceção."

(Des)Prazeres da Vida Cotidiana

Muitas vezes, eu me pergunto qual seria o porquê de não postar tanto como planejava no blogger. Outras vezes, também me questiono por que as pessoas muitas vezes preferem ler simples babaquices cotidianas, fofocas várias, ocupar-se de coisas tão passageiras e desimportantes. A vida me parece às vezes um emaranhado de futilidades.
A primeira questão a ser lançada é se criamos isso ou se isso já vem pronto pra nós. Por que será, que nós, envolvidos em estratagemas científicos intrincados, alguns ainda nem descobertos pela ciência de hoje, ainda presa a modelos fúteis? Seríamos, então, criados pra simplesmente aproveitarmo-nos da mídia mentirosa, que espetaculariza pessoas, às vezes inocentes, às vezes oportunas demasiadamente?
Certamente, a vida é muito mais do que isso. Qualquer que seja a sua cultura, provavelmente tem como base educativa a busca de novas experiências, utilizando-se de diversos meios. Pra isso, existe um mestre silencioso, que não utiliza-se de lousas, lições, ou sermões fora do comum. Não há também, com esse mestre, provas orais ou escritas. Tudo é baseado na prática e no erro e na dor. Assim, com certeza, qualquer um, cedo ou tarde, aprenderá a lição.
Mas todos se esquecem disso. Preferem ver a banda passar, acompanhar a vida dos outros, ou quem sabe, a vida daqueles que nunca virão a existir. Querem ver toda a candura, amor, paixão, e desventuras em outras pessoas, já que têm a vida apagada pela indústria que fomenta tudo isso, que quer ganhar lucros e mais lucros em cima de pessoas que já nascem com o humor de mortos-vivos.
E é daí que surgem muitos de nossos problemas cotidianos: da mídia, que ao mesmo tempo que entrona heróis, desterra vilões, enquanto nós simplesmente passivos assistimos.

Sobre A Beleza das Coisas

Agora, um novo ano começou. 2010 chegou, mas a vida continua. Faz algum tempo que sequer mexo no blog, ainda que me sobrem ideias, que vão e vem no turbilhão mental, num escoamento bastante turbulento. Algumas, porém, necessitam ficar mais algum tempo guardadas. Precisam ser atualizadas e construídas, aos poucos. Confesso que não sou perfeito. Às vezes não escrevo porque simplesmente falta-me a disposição, o ânimo suficiente pra abusar da conexão banda larga e gastar o teclado. Facilitando tudo, também faço parte de um time vergonhoso, o da preguiça.
Mas hoje, num sopro repentino de inspiração e de energias, decidi voltar ao blog. Falar de algo que, quando lido, pode causar em alguns reações inesperadas. Mas o que é o ofício de escrever, senão o de expressar as ideias, sejam elas quais forem? Em alguns casos, a transmissão de certas ideias pode ser bastante perigosa, mas creio que perigo nenhum haverá em palavras tão desorganizadamente arrumadas nesse espaço frio de pixels e elétrons.
Alguns me perguntam, já há certo tempo, por que ouço músicas tão tristes, tão cruéis, tão sujas. Vejo no tom dessas perguntas um certo tom de preocupação, e me sinto agradecido por isso. Entretanto, a fala, às vezes, não me permite colocar em ordem todas as ideias, sendo que por vezes acabo por preocupar ainda mais aqueles que tanto me amam. Não desejo isso jamais, mas sei que fazem isso pelo mais puro amor que têm por mim, talvez de uma forma que nunca antes havia conhecido.
Pois então que pergunto, não somos constituídos de matéria temporária, barro efêmero e de fácil dissolução com o passar do tempo? Estamos, pois, num eterno vir-a-ser, como diria o sábio grego, passamos de um a outro oposto em um tempo relativamente curto. Pensemos aplicando esse conceito: O que seria o significado das coisas? Seria algo concreto, fechado? Ou seria algo aberto? Não mudamos, com o passar desse mesmo tempo, o significado e o uso das palavras? O jogo deve se repetir até mesmo em palavras que se mostram antônimas.
Aprendemos, de formas diversas, por exemplo, que a morte não é o fim e nem é ruim, e que muitas vezes a vida pode ser tão ou mais agonizante e sufocante quanto as sepulturas. Passemos pra outros exemplos: vejamos os espíritos mais elevados, ou santos, ou mestres, chamem como quiserem o que aqui falo. Qual será a fórmula do seu conhecimento? Na minha opinião, seria a vida livre, sem medo do que vem à frente, sendo possível a existência da dor.
Já li vários livros, que falam da dor como principal mestra em situações extremas. E porque não? É ela que nos permite pensar, articular ideias que possam deslocar obstáculos para que, quando vencidos, possam possibilitar o deslocamento evolutivo do espírito, ser ou ego. Um outro falava que a dor se deslocava de forma vertical, em direção às alturas, enquanto a felicidades, pros lados. Então, segundo o autor, a dor elevaria o ser, enquanto a felicidade aproximaria os iguais.
Aqui ponho uma ressalva em minhas ideias, um erro na minha conduta, que é a de não transparecer a alegria que há em mim. E é nisso que devo focar: emitir maiores vibrações de felicidade pra aqueles que amo demais, porque eles merecem, pelo amor que a cada dia dão pra mim, e que tento retribuir do jeito que posso e, às vezes, falhando, o que me deixa muito triste.
Voltando pro assunto principal, não é quando o céu tá mais enegrecido, obscurecido com vultosos cumulus, cumulonimbus ou stratus, que o tempo parece querer reagir, melhorando para que, no dia seguinte, o céu esteja totalmente limpo? Não é quando algo tá tão imundo, que a primeira reação ao vê-lo é limpá-lo totalmente?
Então, o que é Belo e o que é Feio? A resposta, talvez, nunca nos venha. Possivelmente, esse conceito seja falso, ou talvez sejamos simples demais pra entender tantas coisas. O que é certo é que meu amor é minha vida. E aqueles que amo nunca deixarão de serem amados, mesmo após de brigas, pois a compreensão e a paciência devem ser ainda treinadas por mim, ser errante nesse lugar ainda tão perigoso pra ser integralmente feliz.

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