Numa época em que o fluxo de pensamentos é tão grande, como essa que eu passo, fácil é pensar. Entretanto, é uma tarefa bem mais trabalhosa organizar o pensamento, transferi-lo para o papel, digo, para o blog e terminar nesses textos que faço. Tal ofício tem revelado muito do meu desconhecido, ou seja o nome que os 'profissionais' preferem designar para o inconsciente do ego.
Mas o principal assunto que eu encontrei para debater hoje, além do tempo infernal que faz aqui nessa maravilhosa cidade (38ºC de sensação térmica à meia-sombra!), foi a hipocrisia dos nossos representantes políticos. Qualquer um que acompanha jornal, televisão, ou outro meio de comunicação, sabe que em se tratando de política moderna, quanto mais se investiga, mais merda é encontrada. Porém, esse último caso ultrapassou todos os limites e escrúpulos que ainda nos sobraram.
É incrível a propaganda feita pelo governador e prefeito do Rio de Janeiro, que por sinal, são do mesmo partido. Todos hão de concordar que, em ambas as eleições, a propaganda desses nossos amados políticos foi super produzida, tentando mostrá-los como a esperança do povo pobre do Rio de Janeiro, insultando os outros candidatos como 'Representantes da Zona Sul e adjacências de alto luxo'. Convencida, a maioria votou nesses candidatos.
Ao entrar, medidas e planos faraônicos. 'Estabeleçamos a Ordem na cidade!' Mas o que vem a ser ordem? Para mim, toda essa reforma parece simplesmente remover pobres coitados viciados e moradores de rua (nessa ordem confusa mesmo), com programas de assistência deficitários, com índices de ressocialização baixíssimos. Que adianta tirar o camelô, que simplesmente revende produtos baratos e piratas, mas não garantir o pão de cada dia desses homens pobres? Com certeza, é muito mais fácil para esses governantes trocarem o comércio popular pelo Shopping Center, coisa essa, aliás, bastante antiga. Basta que se lembre de Pereira Passos, o homem que construiu a Paris dos trópicos tornando ex-escravos em sem-tetos e/ou favelados.
Isso sem comentar da política da Segurança pública. 'Matar e depois perguntar': voltamos à Idade Média nos direitos humanos, tenham certeza. E que queimem os novos magos, desde que não seja no nosso Sagrado Estado, que fiquem em presídios de Segurança Máxima (pra crianças de até 5 anos). Há um estado inscrito em outro Estado, em que esse tenta destruir aquele. E a vítima é o homem normal, que pode deparar-se com o Ceifador na próxima esquina.
Com certeza sem mais nenhuma criatividade para criar projetos de 'ajuda' ao povo, elaboraram o projeto mais mirabolante para ludibriá-lo: por que não trazer a Olimpíada pro Rio de Janeiro?
Talvez como já fosse esperado, fomos louvados com essa glória: receber o mundo pra competições desportivas. Uma grande festa foi armada, criou-se um feriado para isso, fazendo sofrer o trabalhador e o estudante que nada tinham a ver com isso. O povo foi à praia, onde houve uma grande parada regada à samba, remetendo implicitamente ao fascismo e totalitarismo.
Terminada a festa, divulgaram os projetos e planos para bem receber o estrangeiro. Curioso é que todos se localizavam em áreas nobres da cidade: regatas em Botafogo, corridas e jogos no complexo do Maracanã, esporte nobres na região da Barra da Tijuca...o limite máximo foi Deodoro. A dúvida é: será que aí acaba a cidade do Rio de Janeiro? Estranhamente, esqueceram-se das ruas suburbanas, da Zona Oeste e da Zona Norte. Vemos quão bonitas são as áreas escolhidas, mas por que não mostrar a realidade?
Foi aí que a filosofia do governo se mostrou da forma mais clara que poderia ser. A violência é o veneno que corrói o Rio. Traficantes, facções, guerras, tragédias...a história toda, já a conhecemos de cor e salteado. O policiamento comunitário é sim, uma solução para tal problema. Porém, já perceberam como esse modelo é melhor em comunidades das áreas nobres, as que mais contrastam com o luxo e opulência da cidade? Lembro-me, que há algum tempo, quando foi perguntado sobre isso, o Secretário de Segurança Pública assim respondeu: 'Há, sim, o que defender no Santa Marta; mas no Batan, nada há para cuidar.' Devemos lembrar que o Santa Marta fica em Botafogo, perto de muitos prédios de alta qualidade, onde as pessoas são felizes como nas novelas do Manoel Carlos. Já o Batan tá localizado bem no meio de Realengo, na Zona Oeste, a 33Km do centro do Rio e da atenção do poder público, onde a maioria dos jovens estudam em péssimas escolas públicas, mantidas pelo Estado e Município, e cujos pais ou são desempregados, ou se deslocam todo dia pra Zona Sul/Centro.
O cúmulo de tudo isso se deu em Brasília, na última quinta, quando o mesmo Secretário falou o seguinte sobre a violência da cidade: 'O Rio não é violento.' Hoje, sexta, ele tentou se retratar, dizendo que tem perfeita noção da violência no Rio.
Aproveito tudo isso, escrito talvez tão desorganizadamente em linhas certas, para perguntar a todos que tenham noção do grau de violência na cidade do Rio se já foram assaltados, se já se encontraram em meio ao tiroteio ou se já tiveram algum parente morto por esse ciclo violento. Caso não respondam a nenhuma dessas, tentem sentir, mesmo que de longe, o sentimento de pessoas assoladas por tudo isso.