Revolução no Brasil(?)

 Ninguém pode negar que 2011 começou bombando, em vários aspectos. Primeira mulher presidente no Brasil, Corinthians eliminado na primeira fase da libertadores, Ronaldinho Gaúcho no Flamengo, Carnaval só em Março...e isso só em Janeiro. Sem falar em certos protestos que começaram concentrados em certas partes do planeta.
Muitos de nós, de alguma forma, sabemos o quanto a cultura islâmica tem se mostrado bastante fechada à ilusão de um novo mundo, globalizado. Durante toda a década que se passou, podemos ver, do plantão da Globo na hora da TV Globinho, em 11 de setembro de 2001, aos folhetins da Glória Perez das 21h, passando por inúmeras manchetes dos jornais globais, toda a influência do pensamento americano, dizendo que os árabes são um povo atrasado; que proíbem televisões nos países deles, organizam atentados terroristas no mundo inteiro, que subjugam as mulheres a um papel servil em pleno século XXI e que sempre sustentam governos autoritários, ditatoriais, anti-humanos, andando na contramão na cantilena preguiçosamente regida pelos maestros dos EUA.
Percebemos que o melhor era simplesmente seguir um padrão consumista de vida, nos entupirmos de computadores e redes sociais que borbulham por aí, de não dar a mínima para nossa própria cultura, e achar engraçado ver uma mulher cheia de véus em pleno verão carioca.
Mas esse mês de Janeiro deu uma prova do que é aquele povo que pensávamos ser mais ultrapassado que os nossos hábitos devastadores e inconsequentes. Populações de países islâmicos, não usando de um fundamentalismo cenográfico como aquele que nos é transmitido em grandes coberturas jornalísticas, perceberam que estavam literalmente pagando o pato pra manter esse modo de vida americano. E pior, usaram as redes criadas e financiadas pelos próprios americanos para promover seus protestos.
Tudo começou na Tunísia, país pequeno do Norte da África. Ninguém se lembrava do pobrezinho (de propósito?). Mas aí a mídia fez o favor de revelar a história desse país até então pouco conhecido. Grande produtor de petróleo, com um passado de ditaduras sustentadas por alguns países, visto a sua desatenção com os tais dos direitos humanos. Pronto, script de 99,9% de países árabes...xi, lá vem confusão. Pensaram que iam fazer o mesmo que no Irã, onde chegou o chefe religioso querendo tirar o fantochando do grande manda-chuva da época. Mas não, os muçulmanos eram religiosos sim, mas só queriam dignidade. Desejam eles um governo honesto, minimamente democrático que seja, mas que seja capaz de dar-lhes voz, emprego e prosperidade. Conseguiram fazer com que o ditador de mais de duas décadas fugisse para bem longe dali, junto com a família inteira, tirando-o do poder. Claro, a fuga tava fora das intenções deles, queriam ver o cara e a família corrupta dele pagar por anos de penúria do povo tunisiano. Justo, não?
Aí, o medo foi se espalhando. A Jordânia começou a adular o seu povo, que se sentiu satisfeito. A democracia, mesmo com um Rei, aumentou um pouquinho. A sorte de não estar em crise grave impediu que a cabeça do soberano rolasse. Na Arábia Saudita, há ainda muito a caminhar: o rei ainda é absoluto, a população ainda vive na penúria, contrastando com os palácios dos sheiks. No Iêmen, periguinho: começaram a protestar contra o presidente-ditador, governando por mais de vinte anos, e a população em estado deplorável, sendo esse um dos países mais pobres e dependentes da região árabe. No Egito, a situação mais séria, que teve maior repercussão do que o caso na Tunísia.
Curioso pra mim é que as situações dos dois países é bem parecida. Ditaduras que chegam a três décadas, corrupção na pauta, favorecimento dos parentes e compadres, pobreza geral, mesmo sendo maiores economias da África e produtoras de petróleo não filiadas a OPEP. Talvez haja alguns agravantes no caso egípcio. Aliás, tratamos de um das mais antigas civilizações, que passou por várias roupagens religiosas e culturais, com atrações turísticas bastantes famosas. Além disso, não vamos esquecer da importância dos acordos do ditador egípcio com EUA e Israel, o que deixa a parada mas tensa, passando do ponto de fervura.
Depois de uma semana de protesto, com mortos, feridos, milhares acampados no meio da rua, a história vai virar uma verdadeira novela, literalmente das oito e meia, entre a das 19h e a das 21h. O ditador nega-se a largar o poder, mesmo sabendo que já está lascado. Talvez queira virar herói, mas todos o consideram vilão. No mundo inteiro começam os protestos em apoio ao movimento popular (não bolchevique, não fundamentalista, não marxista) egípcio. Alguns fazem isso de boa vontade, outros veem interesses de "expandir a democracia por meio de um 'soft Power'". Normal.
Enquanto isso, no Brasil, nada de novo. Faz tempo que não vemos uma grande manifestação. Chamam-nos de povo pacífico. Eu acho que somos um povo desarticulado e com medo do poder. Ainda estamos sob um absolutismo, anacrônico. Ainda temos um poder centralizado, pouco discutido. No máximo, xingamos aqueles que nós mesmos elegemos e tornamos política uma chacota. Temos os mesmos problemas dos islâmicos, em menor grau. Não vivemos mais em situações apertadas, em que nem podemos confiar na poupança. Porém, temos um dos governos mais corruptos do mundo, mesmo colocando boas personalidades na presidência. Tratamos parlamentares como nobres, e a antiga família real brasileira, uma mistura de Bragança, Bourbon e Habsburgo, ainda tem que ralar muito (pouco) para conseguir seu pão (brioche) de cada cada dia. Sem depender de pensão vitalícia.
Sem ir longe, nossos parlamentares aprovaram um aumento de 13 mil para si próprios, e tá sendo um parto conseguir um aumento de 15 reais no mínimo. A oposição brasileira, ou não entende o povo e prefere ser macaco de imitação, ou tá às voltas com teorias marxistas do século XIX. Representando o meu estado do Rio de Janeiro, um deputado, ex-jogador de futebol com fama internacional, e em situação econômica deprimente se elege deputado federal, dorme na sessão de apresentação aos calouros da câmara, bate o ponto da primeira sessão e volta pro Rio pra jogar futevôlei na praia da Barra. Outro, ex-aliado de gente podre que domina um reduto eleitoral em Campos, duramente afetado por periódicas tempestades e moralista ferrenho, contra propostas que poderiam melhorar os direitos humanos no Brasil, consegue uma vaga no plenário e uma indicação para o diretor de uma grande estatal de energia elétrica. Escolhe um corrupto, aliado seu em trambicagens, e arranja confusão numa política sensível e frágil. E o povo brasileiro prefere seguir o Luciano Huck no facebook.
Sem mais,.....

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