O Tiroteio Nosso de Cada Dia

Nessa semana, eu estava voltando pra casa, depois de um dia pra lá de cansativo, pensando em comida e descanso. Foi quando ouvi disparos rápidos, barulhentos, que espalhavam o ódio por toda aquela rua.
O barulho parecia o dos fogos, mas devido à proximidade da origem daqueles sons, eu tinha certeza de que eram tiros. Eu e os outros passageiros do ônibus tivemos que nos abaixar, amedrontados e assustados, vendo a realidade na nossa frente.
Depois de quase sermos atingidos por um a bala perdida, alguém nos disse que aqueles disparos foram feitos por causa de um assalto.
Esse foi o fato. Outros teriam ficado por aí, mas eu pretendo discutir sobre isso.
A própria existência de objetos que podem tirar a vida como as armas deve ser colocada em discussão. Por que se permite o uso dessas armas. A autodefesa pode ser uma poderosa justificativa, mas será certo defender o que nos ameaça com uma outra ameaça? será que se pensa nisso quando se produz uma arma?
Não é o que se vê. As armas são produzidas e melhoradas tecnologicamente para sustentar guerras, de superficialidade moral, que nos faz retornar à condição de meros animais, com seus instintos não-reflexivos.
Há algum tempo, perguntou-se aos brasileiros se queriam restringir a posse de armas. o brasileiro, contrariando a fama, o senso comum, de pessoa pacífica, disse não a essa nova lei. Talvez, não tenham pensado na vida tirada das pessoas que simplesmente voltavam pra casa; nos sonhos arruinados de pobres sonhadores que nós somos; nos traumas que prendem as pessoas durante o resto da vida, seja psicologicamente, seja fisicamente.
A natureza, por meio de seus mecanismos variáveis, é a única que poderia tirar a vida de alguém. Sem sofrimento, sem sangue derramado, e sim de uma formas mais simples, aspirando o ar que nos corrói a cada inspiração, que à medida que nos dá corda pra viver, também a tira, sem dó nem piedade.
Nossa vida é um jogo, talvez o mais complicado de todos. Porém, não precisamos tirar alguém da nossa frente à força pra sermos felizes.
Outra coisa bastante triste é a nossa imobilidade diante tudo isso. Fato como esse do tiroteio ocorrem todos os dias, passam em todos os noticiários, e nada fazemos, a não ser reclamar. Tirando alguns protestos amadores, não vejo protestos realmente importantes. Nós, humanos, nem sequer tentamos ser um pouco mais fraternos um com os outros. Tudo gira em torno do dinheiro, a felicidade fácil, e o preço que se paga por isso tudo.
Perdemos, cada vez mais, nossa liberdade, nos atando a rotinas falsamente milagrosas, que nos prendem, obrigando-nos a andar em círculos, a dizer sim a tudo e a todos. Temos que nos deter a uma educação superficial, e fazermos muito pra algo que não passa de nossa obrigação.
Até a natureza, somos obrigados a considerá-la constante, com os mesmos comportamentos, talvez pra mostrar-nos que nós domamos a natureza, que nós sabemos todos os seus movimentos. Somos levados a ser inconsequentes, irracionais.
Ressalto aqui que não quero impor nada a ninguém, mas talvez poucos tenham vontade de ler isso. Cada um tem uma escolha a fazer: Diante de toda essa sociedade, em que assaltos, genocídios, estupros, homicídios e outros são quase normais e imperceptíveis, o que se vai fazer? Qual é a sua atitude?

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