Relicário

Vejam essa estrutura
Madeira sólida e bem polida
Num canto qualquer da nobre habitação
Local de reza
De palavras repetidas ao acaso
Jogadas ao vento como a poeira da casa
Quem as receberá?
Essa imagem
Da mais bela cerâmica
Advinda do mais remoto local
Donde emergiu da negra superfície
A mulher, a deusa, que fora subjugada
Pela sua própria metade
É o cármico destino da Eva
A mais criativa das mulheres
Aquela que queria saber mais
Mas que enganada fora
Pela fálica serpente
Formas, objetos, templos da arte
Objeção cega feita pelos fanáticos pela forma do coração
Mas de que importa isso possuir um formato
Se não pulsa, nem vida carrega na sua batida frenética
De que adianta a balada melodiosa
Se ela não transmite qualquer tipo de conteúdo
De que adianta as rimas impossíveis,
Se desconexas ficam as palavras
De que adianta as curvas e floreios harmônicos,
Se nada possuem a não ser a perfeição cartesiana
De que adiantará a arte pela arte,
Se a arte péla a vida?

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