No Coletivo

Morre o dia
A gare imunda tem levantada sua poeira
Pelos seres abissais que emergem
De seus trabalhos de fome
Das suas vidas murchas
Amontoam-se em espaços estreitos
Compram gordurosos salgados
Fedem a suor:
"O fruto do trabalho
Dignifiquem-se, pois,
Deus irá lhes tirar
Do opróbrio que vivem"
Mentiras ecoadas
Disfarçadas pelos melodramas musicais
Que pela caixa de som ecoam
Acalmando a prole faminta de soluções
Batendo sucata, o trem cinquentenário
Chega a estação
Não solta fumaça, mas tem cheiro de queimado
O bando entra nas composições
Segura nos ganchos quebrados
Se apertam
Se amontoam
Se amassam
Sem nem mesmo se conhecerem
Se aconchegam e se esquentam
Mas incólumes permanecem
No doloroso e calorento silêncio
A porta abre e fecha,
Abre e fecha,
Abre e fecha
Alguns ficam de fora,
Outros conseguem um espaço diminuto
E assim o trem parte
No meio da viagem, que suplício
Ar saturado, de vapor de suor
De gás carbônico
De cansaço e desgaste
De sujeira e pó
De histórias a contar
Naquela estação,
Quanta falta de respeito!
Touros que nem esperam as pessoas saírem,
Retomar o fôlego asfixiado
E depois mais abre-e-fecha
Tornamos à viagem
Nos preparando pra mais um dia
Que poderá ser igual
A esse, especialmente
Na hora da volta.

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