Brasília: A Cidade da Esperança?

Nos últimos dias, com a chegada do Carnaval, a gente começa a saber melhor sobre os sambas-enredo que as escolas apresentarão. Uma escola aqui do Rio, e, coincidentemente, uma de São Paulo, vão homenagear os 50 anos de Brasília. Tudo isso vai ser financiado com o dinheiro do Distrito Federal, arrecadado do povo, que às vezes com muito esforço o faz. Paralelamente a isso, vemos, em todos os meios midiáticos, o escândalo da corrupção, no mesmo governo que financia desfiles pomposos. Caso esse, que culminou na prisão do próprio governador do DF. Aliás, parece que a relativamente curta história de Brasília é tão podre que nem há meios de esconder tanta impureza.
A construção de Brasília, poucos sabem, foi conjecturada muito antes da independência brasileira. Para se ter noção, uma das intenções dos Inconfidentes mineiros era centralizar a administração do país, que seria criado por eles. Desbravadores, financiados pelo governo imperial, iam até o Planalto Central, então no meio do nada, onde pouquíssimos índios habitavam, para provar que lá era o local ideal pro governo, sustentando um ideal, e não uma realidade.
O mirabolante plano tomou melhor forma na proclamação da república. Os mesmos militares parnasos e sonhadores, que utilizaram de um falso argumento pra, na verdade, aplicar um golpe político no Brasil, lotearam a área onde hoje existe Brasília e prometeram construi-la, pra integrar o interior do Brasil às áreas que eram mais dinâmicas economicamente. O único problema é que a nossa recém-nascida república tinha os políticos mais mentirosos e corruptos da história. Como diria nosso estimado presidente: "Nunca, na história desse país, houve uma corja tão forte de ladrões políticos." A sua desonestidade era tal que dá-me incrível repugnância ao lembrar das marmotas nas eleições, dos currais eleitorais, dos analfabetos funcionais, que somente eram ensinados a ler pra votar em algum candidato. Enfim, só pelos seguintes fatos, já deu pra notar que essa promessa ficou no papel, como muitas ainda hoje.
Então, chega Juscelino, nosso grande demagogo, que querendo impressionar o povo, decide tirar do papel essa idéia. Porém, o fez do nada. Simplesmente, não havia estradas pra lá, nem mão-de-obra no local demarcado. Levou tudo, desde material de construção, provavelmente já superfaturado, de avião, e mandou trazer uma cambada de nordestinos miseráveis, que ainda se orgulham por serem chamados de calangos.
Depois de gastar cinco anos construindo a cidade, toda num estilo modernista ou futurista, sobre bases podres, sobre os cadáveres dos calangos, gastando dinheiro até das reservas do país, inauguraram Brasília, no mesmo dia da morte de Tiradentes.
Voltemos ao dias de hoje. Visitei Brasília há algum tempo, e vi quão moderna a cidade é. Acontece que é impossível você andar pela cidade sem carro, o que empesteia a cidade com os conhecidíssimos Gás Carbônico e Dióxidos de Enxofre e Nitrogênio, enchendo nossos pulmões de fuligem, só que não misturados à umidade, já estamos no meio da América do Sul e num planalto de grande altitude. Observamos o centro do Distrito Federal, ou seja, Brasília, pujante, com seu povo jogando dinheiro fora, e o seu redor, miserável. É isso que agrava as nossas desigualdades sociais.
Isso me lembra um santo italiano, Dom Bosco, que é venerado em Brasília, por ter dito que sonhou com uma terra situada entre os paralelos 15 e 20 Sul, rica como a nossa capital. Se ele estivesse vivo, ou, se pelo menos, tivesse algum tipo de contato com esse santo, perguntar-lhe-ia se ele viu o seu entorno ou se verificou a existência de tanto dinheiro. Sim, porque isso ainda é uma dúvida entre todos os cidadãos brasileiros.
O Carnaval já começou e, com eles, os desfiles. A minha esperança é que a linguagem do dessa festa carioca, conhecida pela sua riqueza e incrível subjetividade, seja capaz de transmitir não só a beleza da capital do futuro, mas sim a sua verdade. Por último, dou a Brasília meus parabéns pelos seus cinquenta anos, de corrupção, egoísmo, materialismo e exclusão social.

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