Coisa Pública

Começo mais essa postagem com uma modificação no meu habitual perfil. Fiz dezesseis anos, e com isso, novas responsabilidades batem à minha porta. Segundo as leis brasileiras, agora eu já posso, facultativamente, votar. Mas aí eu comecei a pensar sobre o que seria o ato de votar. Observei que, estranhamente, a interpretação dada a essa ação pode adquirir diversos significados, conforme a intenção daquele que pensa.
Alguns muitos levam esse termo pro simples ato de votar. É como se somente fosse uma festa, ou um dia diferente, simplesmente. Pensa-se somente no momento, não se fazem grandes projeções, nem pequenas que sejam, sobre o que aquilo poderá desencadear em nossas vidas. O cotidiano apressado, que não permite tempo hábil para o bem pensar, além da desestimulação a esse, contribui pro agravamento desse problema.
Se bem que, não é mentira pra ninguém que o povo brasileiro sempre serviu de curral eleitoral. Os ufanistas que me perdoem, mas essa é uma verdade crucial. Nós sempre fomos treinados pra não nos importarmos com a política verdadeira, desde o berço. Quando a república brasileira foi fundada, o povão nem tinha noção do que estava acontecendo. Mal sabiam eles que aquilo era um golpe sujo dos militares, que aos poucos foi abrandado pra uma passagem dos mais destemidos, daqueles que queriam inovar e modernizar o Brasil. Mas nada disso ocorreu.
O problema fundamental, e que muitos poucos chegam a tangenciar tal questão, é sobre o que se define como cidadania. O estranho é que essa palavra já é usada há uns 2500 anos. Sempre foi puxada pro significado que proporcionasse o poder a poucos. Em Atenas e Roma, era restrita aos homens maiores de 21 anos e nascidos nessas cidades, além de serem poderosos, o que limitava a porcentagem de eleitores a menos de 10% da população. Depois das revoluções capitalistas, o voto, durante muitos anos, esteve nas mãos daqueles que ganhavam mais. O cúmulo dessa situação quase ocorreu no Brasil, em que se projetava considerar como eleitores aqueles que tivessem um número fixo de alqueires de mandioca. Por sorte, nosso primeiro ditador, Pedro I, não permitiu tal devaneio dos nossos "Reis da Cocada Preta".
Hoje, as pessoas pensam que, pra serem cidadãs, basta ter o direito a voto. Mesmo depois de tantas provas que mostram o significado acima, desde a origem da palavra, prefiro usar a minha acepção pra tal termo. Cidadania significa participar dos fatos ocorrentes na comunidade onde se vive, tentar resolvê-los, procurando primeiramente as nossas autoridades. Mas isso é utópico demais, já que nunca vi nenhum político que atendesse prioritariamente algum pedido da comunidade fora do período de eleição. Logo, devemos partir ao plano B.
Se não adiantar o pacífico, por que não tentar o mais ousado? Concordo que sou pacifista, procuraria negociar antes de atacar, mas acho que em muitas situações, poderíamos utilizar da nossa união pra promovermos protestos, mesmo que sejam pacíficos. Exemplos não faltam; basta lembrar de Gandhi. Mas esqueci que muitos preferem não pensar profundamente, então nem adiantaria. Mas, certamente há uma arma melhor, e tá sempre em nossas mãos.
É o direito de voto, aquele que confirma, e não configura, a cidadania. Então, nesse ano de eleição, em que provavelmente irei votar, vamos nos lembrar de uma coisa: voto consciente é o que há.

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