Retrato

Essas são simples palavras, de alguém que nada conhece da vida, e nem nunca a conhecerá tão bem quanto o quer. É uma das minhas primeiras experiêcnias na poesia, forma tão nova e desconhecida que surge, e pulsa, e clama, de forma inesperada. É simplesmente algo que ainda não domino.

Estava cercado de caixas
vendo fotos, num vai-e-vem
como o vento que sopra nas faces
brancas e encardidas pela desatenção,
pelo descuido daquele que lhes escreve.
Pensei nas fotos minhas,
sorrisos e olhos congelados no papel
as emoções tão inexistentes.
Pensei que nem fosse eu ali,
na realidade, em nenhuma foto
senti-me tão autêntico
quanto na minha vida
nem na infância minhas fotos
eram fidedignas a minha 'idion'.
Quem são esses,
os sorrisos que rasgam o meu rosto
cheio de realidade,
acostumado com a vida,
essa filha-da-puta
que ora nos dá flores,
ora nos dá desgostos vários?
São retratos, falsos pedaços do Eu,
perfeitamente rasgáveis;
tenho certeza de que, há trinta anos,
se não fossem digitalizados os malditos,
os veria cheios da marcas das traças.
O retrato, com um rosto bem jovem, bem feliz,
e as mãos que o segurariam,
enrugadas pelo trabalho
e com o manejo
daquelas curvas sensuais, inconstantes
arredias como sua dona.
Pelas mãos, observo tudo o que veio antes
Todas as alegrias,
desilusões,
tristezas,
encontros.
Vi a vida,
vi a morte,
vi a ressureição,
vi a felicidade
vi o prazer momentâneo.
Tudo isso, porém,
penetrou em mim,
de forma tão profunda
mais profunda que todo o meu
montante de retratos.

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