Retrato

Essas são simples palavras, de alguém que nada conhece da vida, e nem nunca a conhecerá tão bem quanto o quer. É uma das minhas primeiras experiêcnias na poesia, forma tão nova e desconhecida que surge, e pulsa, e clama, de forma inesperada. É simplesmente algo que ainda não domino.

Estava cercado de caixas
vendo fotos, num vai-e-vem
como o vento que sopra nas faces
brancas e encardidas pela desatenção,
pelo descuido daquele que lhes escreve.
Pensei nas fotos minhas,
sorrisos e olhos congelados no papel
as emoções tão inexistentes.
Pensei que nem fosse eu ali,
na realidade, em nenhuma foto
senti-me tão autêntico
quanto na minha vida
nem na infância minhas fotos
eram fidedignas a minha 'idion'.
Quem são esses,
os sorrisos que rasgam o meu rosto
cheio de realidade,
acostumado com a vida,
essa filha-da-puta
que ora nos dá flores,
ora nos dá desgostos vários?
São retratos, falsos pedaços do Eu,
perfeitamente rasgáveis;
tenho certeza de que, há trinta anos,
se não fossem digitalizados os malditos,
os veria cheios da marcas das traças.
O retrato, com um rosto bem jovem, bem feliz,
e as mãos que o segurariam,
enrugadas pelo trabalho
e com o manejo
daquelas curvas sensuais, inconstantes
arredias como sua dona.
Pelas mãos, observo tudo o que veio antes
Todas as alegrias,
desilusões,
tristezas,
encontros.
Vi a vida,
vi a morte,
vi a ressureição,
vi a felicidade
vi o prazer momentâneo.
Tudo isso, porém,
penetrou em mim,
de forma tão profunda
mais profunda que todo o meu
montante de retratos.

Brasília: A Cidade da Esperança?

Nos últimos dias, com a chegada do Carnaval, a gente começa a saber melhor sobre os sambas-enredo que as escolas apresentarão. Uma escola aqui do Rio, e, coincidentemente, uma de São Paulo, vão homenagear os 50 anos de Brasília. Tudo isso vai ser financiado com o dinheiro do Distrito Federal, arrecadado do povo, que às vezes com muito esforço o faz. Paralelamente a isso, vemos, em todos os meios midiáticos, o escândalo da corrupção, no mesmo governo que financia desfiles pomposos. Caso esse, que culminou na prisão do próprio governador do DF. Aliás, parece que a relativamente curta história de Brasília é tão podre que nem há meios de esconder tanta impureza.
A construção de Brasília, poucos sabem, foi conjecturada muito antes da independência brasileira. Para se ter noção, uma das intenções dos Inconfidentes mineiros era centralizar a administração do país, que seria criado por eles. Desbravadores, financiados pelo governo imperial, iam até o Planalto Central, então no meio do nada, onde pouquíssimos índios habitavam, para provar que lá era o local ideal pro governo, sustentando um ideal, e não uma realidade.
O mirabolante plano tomou melhor forma na proclamação da república. Os mesmos militares parnasos e sonhadores, que utilizaram de um falso argumento pra, na verdade, aplicar um golpe político no Brasil, lotearam a área onde hoje existe Brasília e prometeram construi-la, pra integrar o interior do Brasil às áreas que eram mais dinâmicas economicamente. O único problema é que a nossa recém-nascida república tinha os políticos mais mentirosos e corruptos da história. Como diria nosso estimado presidente: "Nunca, na história desse país, houve uma corja tão forte de ladrões políticos." A sua desonestidade era tal que dá-me incrível repugnância ao lembrar das marmotas nas eleições, dos currais eleitorais, dos analfabetos funcionais, que somente eram ensinados a ler pra votar em algum candidato. Enfim, só pelos seguintes fatos, já deu pra notar que essa promessa ficou no papel, como muitas ainda hoje.
Então, chega Juscelino, nosso grande demagogo, que querendo impressionar o povo, decide tirar do papel essa idéia. Porém, o fez do nada. Simplesmente, não havia estradas pra lá, nem mão-de-obra no local demarcado. Levou tudo, desde material de construção, provavelmente já superfaturado, de avião, e mandou trazer uma cambada de nordestinos miseráveis, que ainda se orgulham por serem chamados de calangos.
Depois de gastar cinco anos construindo a cidade, toda num estilo modernista ou futurista, sobre bases podres, sobre os cadáveres dos calangos, gastando dinheiro até das reservas do país, inauguraram Brasília, no mesmo dia da morte de Tiradentes.
Voltemos ao dias de hoje. Visitei Brasília há algum tempo, e vi quão moderna a cidade é. Acontece que é impossível você andar pela cidade sem carro, o que empesteia a cidade com os conhecidíssimos Gás Carbônico e Dióxidos de Enxofre e Nitrogênio, enchendo nossos pulmões de fuligem, só que não misturados à umidade, já estamos no meio da América do Sul e num planalto de grande altitude. Observamos o centro do Distrito Federal, ou seja, Brasília, pujante, com seu povo jogando dinheiro fora, e o seu redor, miserável. É isso que agrava as nossas desigualdades sociais.
Isso me lembra um santo italiano, Dom Bosco, que é venerado em Brasília, por ter dito que sonhou com uma terra situada entre os paralelos 15 e 20 Sul, rica como a nossa capital. Se ele estivesse vivo, ou, se pelo menos, tivesse algum tipo de contato com esse santo, perguntar-lhe-ia se ele viu o seu entorno ou se verificou a existência de tanto dinheiro. Sim, porque isso ainda é uma dúvida entre todos os cidadãos brasileiros.
O Carnaval já começou e, com eles, os desfiles. A minha esperança é que a linguagem do dessa festa carioca, conhecida pela sua riqueza e incrível subjetividade, seja capaz de transmitir não só a beleza da capital do futuro, mas sim a sua verdade. Por último, dou a Brasília meus parabéns pelos seus cinquenta anos, de corrupção, egoísmo, materialismo e exclusão social.

Coisa Pública

Começo mais essa postagem com uma modificação no meu habitual perfil. Fiz dezesseis anos, e com isso, novas responsabilidades batem à minha porta. Segundo as leis brasileiras, agora eu já posso, facultativamente, votar. Mas aí eu comecei a pensar sobre o que seria o ato de votar. Observei que, estranhamente, a interpretação dada a essa ação pode adquirir diversos significados, conforme a intenção daquele que pensa.
Alguns muitos levam esse termo pro simples ato de votar. É como se somente fosse uma festa, ou um dia diferente, simplesmente. Pensa-se somente no momento, não se fazem grandes projeções, nem pequenas que sejam, sobre o que aquilo poderá desencadear em nossas vidas. O cotidiano apressado, que não permite tempo hábil para o bem pensar, além da desestimulação a esse, contribui pro agravamento desse problema.
Se bem que, não é mentira pra ninguém que o povo brasileiro sempre serviu de curral eleitoral. Os ufanistas que me perdoem, mas essa é uma verdade crucial. Nós sempre fomos treinados pra não nos importarmos com a política verdadeira, desde o berço. Quando a república brasileira foi fundada, o povão nem tinha noção do que estava acontecendo. Mal sabiam eles que aquilo era um golpe sujo dos militares, que aos poucos foi abrandado pra uma passagem dos mais destemidos, daqueles que queriam inovar e modernizar o Brasil. Mas nada disso ocorreu.
O problema fundamental, e que muitos poucos chegam a tangenciar tal questão, é sobre o que se define como cidadania. O estranho é que essa palavra já é usada há uns 2500 anos. Sempre foi puxada pro significado que proporcionasse o poder a poucos. Em Atenas e Roma, era restrita aos homens maiores de 21 anos e nascidos nessas cidades, além de serem poderosos, o que limitava a porcentagem de eleitores a menos de 10% da população. Depois das revoluções capitalistas, o voto, durante muitos anos, esteve nas mãos daqueles que ganhavam mais. O cúmulo dessa situação quase ocorreu no Brasil, em que se projetava considerar como eleitores aqueles que tivessem um número fixo de alqueires de mandioca. Por sorte, nosso primeiro ditador, Pedro I, não permitiu tal devaneio dos nossos "Reis da Cocada Preta".
Hoje, as pessoas pensam que, pra serem cidadãs, basta ter o direito a voto. Mesmo depois de tantas provas que mostram o significado acima, desde a origem da palavra, prefiro usar a minha acepção pra tal termo. Cidadania significa participar dos fatos ocorrentes na comunidade onde se vive, tentar resolvê-los, procurando primeiramente as nossas autoridades. Mas isso é utópico demais, já que nunca vi nenhum político que atendesse prioritariamente algum pedido da comunidade fora do período de eleição. Logo, devemos partir ao plano B.
Se não adiantar o pacífico, por que não tentar o mais ousado? Concordo que sou pacifista, procuraria negociar antes de atacar, mas acho que em muitas situações, poderíamos utilizar da nossa união pra promovermos protestos, mesmo que sejam pacíficos. Exemplos não faltam; basta lembrar de Gandhi. Mas esqueci que muitos preferem não pensar profundamente, então nem adiantaria. Mas, certamente há uma arma melhor, e tá sempre em nossas mãos.
É o direito de voto, aquele que confirma, e não configura, a cidadania. Então, nesse ano de eleição, em que provavelmente irei votar, vamos nos lembrar de uma coisa: voto consciente é o que há.

Vogelfrei

Volto a postar aqui no blog após quase duas semanas. Em primeiro, surpreendo-me com a rapidez imperceptível do tempo, tão valorizado hoje em dia. Também admito que esse foi um período em que, por diversas razões, não tive inspiração alguma pra escrever sequer uma linha. Mas, nesse dia, a maré mudou, devido a uma notícia que, ao mesmo tempo, é triste e revoltante.
Teve uma média repercussão nos noticiários dos grandes impérios televisivos, responsáveis por nos entorpecer, dia após dia, com notícias fúteis ou, quando não, por tragédias do pior estilo, uma manchete que poderia ter se tornado "comum" nesses programas, se fosse ambientado na maioria das escolas. Infelizmente, não se fez tal fato. Cito, para os que não sabem, o acontecimento ocorrido no Colégio Naval, em que um estudante, ao contrário do que disseram os algozes midiáticos, enlouqueceu devido à pressão exercida pelos estudantes e pelo próprio corpo de oficiais (ou feitores).
O Colégio naval, admito, nunca foi admiração ou sonho meu. Ao contrário, não concordo com o modelo educacional e filosófico da instituição. Jamais conseguiria permitir um tolhimento da minha liberdade individual pra simplesmente conseguir sucesso, como fazem todos aqueles, que se sacrificam por um, dois, até três anos pra entrar na "Balilla". Aproveitando essa alusão à instituição disciplinadora (ou torturadora) de jovens italianos, à época de Benito Mussolini, pensemos um pouco no papel da instituição militar. O que fizeram esse grupo, sustentado pelo governo federal, nos últimos anos? Pois lhes responderei.
Digo, categoricamente, que as forças militares desse país nada fizeram pelo povo brasileiro. Posso até me consertar, afirmando que eles trouxeram consigo a truculência de um sistema autoritário, cujas consequências perduram até os dias atuais de nossa existência como país livre. Espoliaram o povo, obrigando os jovens a cumprir um alistamento desnecessário para si mesmos, pois somente lhes dá como dever limpar os quintais dos coronéis e levar pra passear os cães do senhor major. Isso lá é tarefa digna pra uma pessoa, que tanto luta pra conseguir um soldo que nem é proporcional ao seu esforço físico-mental? Afirmo também que os senhores oficiais, em sua maioria, nada fazem, a não ser mamar nas tetas das verbas da União, sustentada, quase inconscientemente, por nós, que somos iludidos por essa mesma classe pelo ideal de manter em nossos corações o instinto nacionalista e de manutenção à democracia, coisa tão piegas e antiga quanto a própria instituição.
A filosofia do atual militarismo brasileiro ainda tá ligada a frágil estrutura positivista. Tal modo de ver a sociedade assemelha-se a uma comunidade de formigas. Pois lhes pergunto: somos formigas, seres frágeis e irracionais, sem força suficiente pra nos revoltarmos contra nossas estruturas sociais putrefatas de tão antigas? Não, somos seres livres e temos direito a pensarmos e agirmos como bem queremos. Não devemos permanecer confinados num campo (de concentração) apenas em busca do sucesso.
Desde a época da proclamação da república foi assim. As forças armadas sempre procurando meios de convencer o povo de que estão fazendo o bem. Seja por parnasos, tremendos homossexuais encolhidos que criaram essa palhaçada de serviço militar obrigatório, seja por militares inspirados no nacional-socialismo, pregando que uma mentira, quando repetida mil vezes, torna-se verdade. Pra eles, a disciplina, o peito estufado, a falsa objetividade são a glória pra quem quer que seja. Estão enganados, principalmente nos dias de hoje.
Termino esse post afirmando que a maioria das ações das forças militares estão identificadas com atos totalitários, e portanto, devem ser execradas em meio público. A própria existência do militarismo é uma quimera. Cito palavras do ex-deputado Márcio Moreira Alves, que em 12 de Dezembro de 1968, fez um dos discursos mais desafiadores ao militarismo brasileiro:
"A impessoalidade das conquistas do Direito é uma das mais belas realidades da luta dos povos pela liberdade. O nome dos barões que, nas pradarias de Windsor, fizeram o Rei João Sem Terra assinar a Magna Carta, perdeu-se nas brumas do tempo. Mas o julgamento por jurados, o direito dos cidadãos de um país livremente atravessaram as suas fronteiras, a necessidade de lei penal anterior e de testemunhas idôneas para determinar uma prisão, continuam a ser um imorredouro monumento àqueles homens e a todos os homens. Esqueceram as gerações modernas as violências de Henrique VII da Inglaterra, porém todas as nações do Ocidente incorporaram às suas tradições jurídicas a medida legal que durante seu reinado e contra ele firmou-se – o hábeas corpus. [...] Não se julga aqui um deputado; julga-se uma prerrogativa essencial ao Poder Legislativo. Livre como o ar, livre como o pensamento a que dá guarida deve ser a tribuna da Casa do Povo. A Constituição proíbe que se tente abolir a Federação e a República. No entanto, os parlamentares podem defender da tribuna a monarquia e o estado unitário. A liberdade de expressão no Congresso terá de ser total para que o Congresso sobreviva. Muitas vezes, em períodos conturbados de nossa História, e ainda recentemente, deputados discursaram em defesa de um regime de exceção."

(Des)Prazeres da Vida Cotidiana

Muitas vezes, eu me pergunto qual seria o porquê de não postar tanto como planejava no blogger. Outras vezes, também me questiono por que as pessoas muitas vezes preferem ler simples babaquices cotidianas, fofocas várias, ocupar-se de coisas tão passageiras e desimportantes. A vida me parece às vezes um emaranhado de futilidades.
A primeira questão a ser lançada é se criamos isso ou se isso já vem pronto pra nós. Por que será, que nós, envolvidos em estratagemas científicos intrincados, alguns ainda nem descobertos pela ciência de hoje, ainda presa a modelos fúteis? Seríamos, então, criados pra simplesmente aproveitarmo-nos da mídia mentirosa, que espetaculariza pessoas, às vezes inocentes, às vezes oportunas demasiadamente?
Certamente, a vida é muito mais do que isso. Qualquer que seja a sua cultura, provavelmente tem como base educativa a busca de novas experiências, utilizando-se de diversos meios. Pra isso, existe um mestre silencioso, que não utiliza-se de lousas, lições, ou sermões fora do comum. Não há também, com esse mestre, provas orais ou escritas. Tudo é baseado na prática e no erro e na dor. Assim, com certeza, qualquer um, cedo ou tarde, aprenderá a lição.
Mas todos se esquecem disso. Preferem ver a banda passar, acompanhar a vida dos outros, ou quem sabe, a vida daqueles que nunca virão a existir. Querem ver toda a candura, amor, paixão, e desventuras em outras pessoas, já que têm a vida apagada pela indústria que fomenta tudo isso, que quer ganhar lucros e mais lucros em cima de pessoas que já nascem com o humor de mortos-vivos.
E é daí que surgem muitos de nossos problemas cotidianos: da mídia, que ao mesmo tempo que entrona heróis, desterra vilões, enquanto nós simplesmente passivos assistimos.

Sobre A Beleza das Coisas

Agora, um novo ano começou. 2010 chegou, mas a vida continua. Faz algum tempo que sequer mexo no blog, ainda que me sobrem ideias, que vão e vem no turbilhão mental, num escoamento bastante turbulento. Algumas, porém, necessitam ficar mais algum tempo guardadas. Precisam ser atualizadas e construídas, aos poucos. Confesso que não sou perfeito. Às vezes não escrevo porque simplesmente falta-me a disposição, o ânimo suficiente pra abusar da conexão banda larga e gastar o teclado. Facilitando tudo, também faço parte de um time vergonhoso, o da preguiça.
Mas hoje, num sopro repentino de inspiração e de energias, decidi voltar ao blog. Falar de algo que, quando lido, pode causar em alguns reações inesperadas. Mas o que é o ofício de escrever, senão o de expressar as ideias, sejam elas quais forem? Em alguns casos, a transmissão de certas ideias pode ser bastante perigosa, mas creio que perigo nenhum haverá em palavras tão desorganizadamente arrumadas nesse espaço frio de pixels e elétrons.
Alguns me perguntam, já há certo tempo, por que ouço músicas tão tristes, tão cruéis, tão sujas. Vejo no tom dessas perguntas um certo tom de preocupação, e me sinto agradecido por isso. Entretanto, a fala, às vezes, não me permite colocar em ordem todas as ideias, sendo que por vezes acabo por preocupar ainda mais aqueles que tanto me amam. Não desejo isso jamais, mas sei que fazem isso pelo mais puro amor que têm por mim, talvez de uma forma que nunca antes havia conhecido.
Pois então que pergunto, não somos constituídos de matéria temporária, barro efêmero e de fácil dissolução com o passar do tempo? Estamos, pois, num eterno vir-a-ser, como diria o sábio grego, passamos de um a outro oposto em um tempo relativamente curto. Pensemos aplicando esse conceito: O que seria o significado das coisas? Seria algo concreto, fechado? Ou seria algo aberto? Não mudamos, com o passar desse mesmo tempo, o significado e o uso das palavras? O jogo deve se repetir até mesmo em palavras que se mostram antônimas.
Aprendemos, de formas diversas, por exemplo, que a morte não é o fim e nem é ruim, e que muitas vezes a vida pode ser tão ou mais agonizante e sufocante quanto as sepulturas. Passemos pra outros exemplos: vejamos os espíritos mais elevados, ou santos, ou mestres, chamem como quiserem o que aqui falo. Qual será a fórmula do seu conhecimento? Na minha opinião, seria a vida livre, sem medo do que vem à frente, sendo possível a existência da dor.
Já li vários livros, que falam da dor como principal mestra em situações extremas. E porque não? É ela que nos permite pensar, articular ideias que possam deslocar obstáculos para que, quando vencidos, possam possibilitar o deslocamento evolutivo do espírito, ser ou ego. Um outro falava que a dor se deslocava de forma vertical, em direção às alturas, enquanto a felicidades, pros lados. Então, segundo o autor, a dor elevaria o ser, enquanto a felicidade aproximaria os iguais.
Aqui ponho uma ressalva em minhas ideias, um erro na minha conduta, que é a de não transparecer a alegria que há em mim. E é nisso que devo focar: emitir maiores vibrações de felicidade pra aqueles que amo demais, porque eles merecem, pelo amor que a cada dia dão pra mim, e que tento retribuir do jeito que posso e, às vezes, falhando, o que me deixa muito triste.
Voltando pro assunto principal, não é quando o céu tá mais enegrecido, obscurecido com vultosos cumulus, cumulonimbus ou stratus, que o tempo parece querer reagir, melhorando para que, no dia seguinte, o céu esteja totalmente limpo? Não é quando algo tá tão imundo, que a primeira reação ao vê-lo é limpá-lo totalmente?
Então, o que é Belo e o que é Feio? A resposta, talvez, nunca nos venha. Possivelmente, esse conceito seja falso, ou talvez sejamos simples demais pra entender tantas coisas. O que é certo é que meu amor é minha vida. E aqueles que amo nunca deixarão de serem amados, mesmo após de brigas, pois a compreensão e a paciência devem ser ainda treinadas por mim, ser errante nesse lugar ainda tão perigoso pra ser integralmente feliz.

Então É Natal

O ano tá terminando, e com ele vem uma festa especial. As lojas, shoppings, ruas e mercados ficam lotados de pessoas que procuram ferozmente por presentes. O objetivo é comprar o máximo possível, torrar o dinheiro instintivamente, tudo em procura de presentes, pra tentar conter a sua tristeza reprimida. O ser humano de hoje tá disposto a fazer tudo pra satisfazer seus pueris desejos de felicidade instantânea. A selvageria de uma sociedade aparentemente tão pacata e ponderada vem à tona, revelando a baixeza da existência humana, e toda a raiva contida durante um ano de supressões sociais. Esse é o Natal de hoje, escondido entre tradições aparentemente inexplicáveis, brigas, discussões, psicodramas e muitos presentes supérfluos.
Essa é a situação pronta, fechada. Mas certamente há a causa disso, a ethos responsável por toda essa situação sinistra e, ao mesmo tempo, dissimulada que, ultimamente, repete-se em todo fim de ano. Precisamos voltar uns cinco mil anos para ver esse porquê.
Nessa época, no Hemisfério Norte, ocorre o solstício de inverno, que marca o fim da colheita e o início do que era um rigoroso inverno, em que, obviamente, não se podia plantar muito. Logo, as tribos, inocentemente, colhiam todos os humildes produtos de suas roças e reuniam a família, ou seja, a tribo inteira, para poderem festejar a produção e agradecer ao amparo dado pela natureza nas suas atividades e subsistência. Não havia uma tradição, uma sanção nem uma obrigação. Era somente pelo prazer de reunir a genos, o que conhecemos hoje como família.
Mas aí surgem os romanos. Brotados do pó existencial de uma terra deserta de gente, e rica em natureza, surgiu a civilização que quase se tornou a mais tirana já conhecida nesse planeta. Sua própria gênese foi causada por uma lenda. Tudo começou por uma cidadela, que foi crescendo, se ampliando, dominando. Quando se aperceberam, construíram, por cima de sangue de gente livre e inocente, um Império. E todo Império deve ter o seu tirano, o seu Deus máximo, a quem todos os seus súditos devem honrá-lo, com oferendas advindas de sua produção. Assim, copiando as festanças das antigas tribos, os deuses-sol de sociedades subjugadas e acrescentando uma pitada da mais suja orgia, gula, luxúria e sede de sangue. Aí surge uma festa deturpada por mentes malignas e sedentas por subjugar o maior número de pessoas possíveis.
Porém, a antiga Roma, eterna por toda a sua maldade, sofria com a disputa ideológica entre várias religiões. Nesse contexto, aparece a figura de fanáticos e hipócritas romanos, que se aproveitaram da doutrina de amor puro proposta por Jesus, um judeu e mártir em uma sociedade que ainda hoje é dominada pelo fundamentalismo. Sua doutrina, levada até o centro do Império por aproveitadores ideológicos, foi totalmente transformada, tornando um carpinteiro de bem em um Senhor onipotente, capaz de subjugar a todos com um piscar de olhos. A partir daí, inventam a evidência de que esse enviado de Deus nasceu perto do solstício.E, assim, começam a comemorar a festa, ás escondidas. Após isso, se aproveitam de uma fraqueza do tirano romano, já em seu leito de morte, e o batizam. Com isso, emerge uma nova soberania.
Até há pouco tempo, éramos dominados por eles, que foram responsáveis por criar heróis, bruxos, vilões, fantasmas, lendas. E então, construíram mais sociedades, que cada vez se aproveitavam do que foi deixado pra trás das mais antigas civilizações. A festa, antes tão natural, era moldada de acordo com as necessidades das partes dominantes da sociedade.
Dentre essas sociedades, surge o que vemos hoje. Surgida também por lendas, como a antiga Roma, esse grupo é, com certeza absoluta, o mais tirano já visto por essas vistas tão frágeis. Ao contrário de seus ancestrais, eles estabeleceram, além de manter um exército fortemente armado e recrutado, uma doutrina baseada no consumo selvagem e desenfreado, baseado numa base frágil, composta de contradições, feitas por pessoas que possuíam os instintos prevalecendo sobre a razão e, por vezes, substituindo-a.
E então, voltamos ao início. Incrivelmente, não fiz essa viagem histórica à toa. Todo esse meu texto, até então, serviu pra mostrar a realidade, base obscurecida dessa festa que de tão cândida, tornou-se cruel. Por muito tempo, e por muitas gerações, vivemos desgraçados e cegos por esses sofismas sociais, que nos aprisionam a meras e idiotas tradições, as quais são extraídas de sociedades que mal conhecemos, considerando-as nossas. Basta desse instinto de posse, de domínio. Que poder é esse, que nem consegue controlar o nosso próprio ser? Busquemos a liberdade, através dos nossos próprios atos.
Não sou contra a festa, mas sim contra os motivos que se a comemora. Então, não devemos deixar de festejar com nossos amigos e parentes, mas também lembremo-nos de dar o muito que temos aos que nada possuem. Não tratemo-los como enjeitados, pobres coitados, dando as migalhas de nossas fartas ceias. Precisamos dá-los, sim, partes de nossas ceias, convidando-os à festa...
Entretanto, esqueço-me de que tais palavras, tão bem escritas, tão floreadas, mal podem sair desse apinhado de pixels, visto que ainda somos um tanto cegos e fracos com tudo o que tá à nossa frente. Enquanto não chegarmos lá, conformemo-nos com as guerras comerciais, e com nós mesmos sendo joguetes da mídia e dos megastores. Feliz Natal a todos!!!!!!!

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